Artigo Índia: Nova Delhi Fevereiro 2019 Jornal O Público


Nova Delhi - Uma capital do século XXI

Já estive na capital inúmeras vezes, quase todas as vezes na zona de Paharganj, junto à New Delhi railway station, a área low cost de Nova Delhi, muito conhecida pelos backpackers. Esta é uma área bem confusa, literalmente um caos visual, olfativo e auditivo com vários restaurantes e darbas (restaurantes de rua), inúmeros vendedores ambulantes, poluição, milhares de pessoas mulheres de saris coloridíssimos, homens com turbantes, cheiro forte de especiarias, javalis, porcos, cabras, camelos, vacas e cães que circulam nas ruas juntamente com carros, motos, bicicletas e riquixós (tuk tuks). Pode ser, para quem não está habituado, um enorme contraste para quem chega diretamente do ocidente para esta zona de Delhi. No início, este choque pode ser tão grande, que pode surgir um certo arrependimento de termos vindo para a Índia, mas basta relaxarem e nada que uma boa noite de sono não faça transformar tudo isto. Por vezes, há quem se baseie na sua vida nas primeiras impressões que se tem dos lugares, das pessoas, das situações. Na Índia, tudo nos parece sair ao contrário. E provavelmente as primeiras impressões aqui serão completamente negras, aterradoras e assustadoras, mas se tivermos alguma paciência tudo se transformará.
A capital deste país é uma cidade em pleno desenvolvimento e com uma enorme potencialidade. Existem desde enormes avenidas arborizadas, ruínas de cidades medievais, palácios, mausoléus e ao mesmo tempo prédios modernos, restaurantes giratórios em prédios de 25 andares, plasmas enormes no meio de algumas ruas, inúmeros cinemas de Bollywood com 3D, templos em quase todas as esquinas. Templos estes alguns mais recentes, outros que remontam ao tempo do Mahbarata como é o caso do templo de hanuman, que é um dos mais antigos templos deste país que se estima que remonte a 3000 anos a.c. Pisar um templo destes é como entrar numa máquina do tempo e fazer um verdadeiro regresso ao passado. Ouvir os mantras que, tocar nas paredes onde biliões de mãos já o fizeram e pisar com os pés descalços um chão onde já caminhou tanta gente, tantos mestres e homens santos é quase como obter um estado samádico com direito a um bilhete pré-nirvânico.
A última vez que tinha estado cá, foi há 12 anos atrás e fico muito feliz por notar uma enorme diferença nesta cidade, desde a sua organização, à limpeza que está muito melhor, vê-se muito menos lixo que no passado, muitos mais técnicos de limpeza urbana e muito mais civismo.
Esta é uma enorme cidade, onde habitam cerca de 18 milhões de habitantes. Para conhecer esta grande capital, ao início pode parecer confuso, mas na realidade não é assim tanto. A minha sugestão é recorrer ao metro, que fica muito mais em conta do que os riquexós ou táxis. Pode-se comprar um bilhete para o dia todo e usá-lo em todas as linhas à exceção da linha laranja de acesso ao aeroporto. Apesar de estarmos na Índia, o metro é bem organizado, uma vez que o nome das estações coincide muitas vezes com os principais lugares turísticos que se pretende visitar, tornando-se fácil e intuitivo. É também limpo e os indianos que aqui circulam são bem civilizados ao contrário do que se pensa. É bem interessante observar as pessoas com os seus trajes asiáticos e alguns religiosos, sikks, monges, árabes ou mulheres com os seus vestidos tradicionais, cabeças tapadas com os seus lenços, mas todos num frenesim típico das estações de metro e das cidades modernas. À semelhança dos países ocidentais, aqui também recorrem constantemente ao companheiro mais íntimo, os seus smartphones, assim como os seus grandes head phones, muitas vezes a ouvirem a música altíssima "Despacito" do cantor porto-riquenho Luis Fonsi e do rapper compatriota Daddy Yankee. Verdadeiramente gente moderna!!! Não vi um único estrangeiro sempre que circulei de metro. Este é, a maior parte das vezes, subterrâneo, mas com muitas zonas à superfície. Eu aventurei-me a andar de metro de noite e em plenas horas de ponta e esta é, sem dúvida, mais uma experiência típica indiana, com milhares de pessoas confinadas a um espaço fechado. Se não quiserem vivenciar esta experiência, basta evitarem as horas de ponta e tudo decorre de forma normalizada, com espaço suficiente para todos.
Delhi pode ser visitada com algum ritmo em três a quatro dias e se houver mais tempo, em cinco a seis dias. Há muito de interessante a ver nesta cidade imponente, histórica e moderna. É de facto, uma cidade fascinante. Esta viveu sob o domínio muçulmano, depois do poder mogol, de seguida, domínio persa até 1803, quando os ingleses assumirem o comando.
Até chegarmos à atual capital, existiram oito cidades na sua história, até à atual Nova Delhi. Esta cidade assistiu ao nascimento e à morte de vários impérios, que sempre deixaram marcas arqueológicas e arquitetónicas, possíveis de se visitarem atualmente. Por isso, a cidade é formada por um conglomerado de oito cidades que viveram numa roda gigante de ascensão e queda. São elas:
Qila Rai Pitora, a primeira cidade construída em 1180; Siri a segunda cidade foi construída por Muhammad Khilji em 1303; Tughuqabad, a terceira cidade, erguida entre 1321 e 1325; Jahanpanah, a quarta cidade, construída por Muhammad bin Tughluq entre 1325 e 1351, para conectar Qila Rai Pitora e Siri; Kotla Firoz Shah, contruída por Firuz Shah Tughluq entre 1351 e 1388, muito perto de Old Delhi; Purana Qila, a sexta cidade, construída por Sher Shah Suri e Dinpanah, surgiu com Humayun em torno de 1500; Shahjahanabad, a sétima cidade, construída pelo imperador mogol Shah Jahan entre 1638 e 1649. A cidade incluía o Forte Vermelho de Delhi, construída quando a capital do Império Mogol foi transferida de Agra para Deli. Nova Delhi, é a oitava e atual cidade que une e inclui todas as anteriores.
Visitei a cidade em quatro dias, mas como já referi, se preferirem, e de forma mais tranquila, poderão fazê-lo em quatro ou cinco dias. Fica a nota que a maioria destes lugares estão fechados à 2ª feira, como acontece na maior parte do mundo.
Aqui seguem as sugestões de visita à capital em quatro dias.
No fundo, podemos dividir Delhi em três grandes áreas:
A) Connaught Place e arredores: prédios do governo, museu de Gandhi e vários templos e mausoléus interessantes;
B) Old Delhi: Mercados antigos, Forte Vermelho, Mesquita Jama Masid entre outras coisas e
C) Mais longe do centro: no sul da cidade está o templo de Lotus, o Qutub Minar e o templo dos Hare Krishna ISKCON.
Rui Bizarro

Jornal: O Público - Fuga dos Leitores 

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