Nova Delhi - Uma
capital do século XXI
Já estive na
capital inúmeras vezes, quase todas as vezes na zona de Paharganj, junto à New
Delhi railway station, a área low cost de Nova Delhi, muito conhecida pelos
backpackers. Esta é uma área bem confusa, literalmente um caos visual, olfativo
e auditivo com vários restaurantes e darbas (restaurantes de rua), inúmeros
vendedores ambulantes, poluição, milhares de pessoas mulheres de saris
coloridíssimos, homens com turbantes, cheiro forte de especiarias, javalis,
porcos, cabras, camelos, vacas e cães que circulam nas ruas juntamente com carros,
motos, bicicletas e riquixós (tuk tuks). Pode ser, para quem não está
habituado, um enorme contraste para quem chega diretamente do ocidente para
esta zona de Delhi. No início, este choque pode ser tão grande, que pode surgir
um certo arrependimento de termos vindo para a Índia, mas basta relaxarem e
nada que uma boa noite de sono não faça transformar tudo isto. Por vezes, há
quem se baseie na sua vida nas primeiras impressões que se tem dos lugares, das
pessoas, das situações. Na Índia, tudo nos parece sair ao contrário. E
provavelmente as primeiras impressões aqui serão completamente negras,
aterradoras e assustadoras, mas se tivermos alguma paciência tudo se
transformará.
A capital deste
país é uma cidade em pleno desenvolvimento e com uma enorme potencialidade.
Existem desde enormes avenidas arborizadas, ruínas de cidades medievais,
palácios, mausoléus e ao mesmo tempo prédios modernos, restaurantes giratórios
em prédios de 25 andares, plasmas enormes no meio de algumas ruas, inúmeros
cinemas de Bollywood com 3D, templos em quase todas as esquinas. Templos estes
alguns mais recentes, outros que remontam ao tempo do Mahbarata como é o caso
do templo de hanuman, que é um dos mais antigos templos deste país que se
estima que remonte a 3000 anos a.c. Pisar um templo destes é como entrar numa
máquina do tempo e fazer um verdadeiro regresso ao passado. Ouvir os mantras
que, tocar nas paredes onde biliões de mãos já o fizeram e pisar com os pés
descalços um chão onde já caminhou tanta gente, tantos mestres e homens santos
é quase como obter um estado samádico com direito a um bilhete pré-nirvânico.
A última vez
que tinha estado cá, foi há 12 anos atrás e fico muito feliz por notar uma
enorme diferença nesta cidade, desde a sua organização, à limpeza que está
muito melhor, vê-se muito menos lixo que no passado, muitos mais técnicos de
limpeza urbana e muito mais civismo.
Esta é uma
enorme cidade, onde habitam cerca de 18 milhões de habitantes. Para conhecer
esta grande capital, ao início pode parecer confuso, mas na realidade não é
assim tanto. A minha sugestão é recorrer ao metro, que fica muito mais em conta
do que os riquexós ou táxis. Pode-se comprar um bilhete para o dia todo e
usá-lo em todas as linhas à exceção da linha laranja de acesso ao aeroporto.
Apesar de estarmos na Índia, o metro é bem organizado, uma vez que o nome das
estações coincide muitas vezes com os principais lugares turísticos que se
pretende visitar, tornando-se fácil e intuitivo. É também limpo e os indianos
que aqui circulam são bem civilizados ao contrário do que se pensa. É bem
interessante observar as pessoas com os seus trajes asiáticos e alguns
religiosos, sikks, monges, árabes ou mulheres com os seus vestidos
tradicionais, cabeças tapadas com os seus lenços, mas todos num frenesim típico
das estações de metro e das cidades modernas. À semelhança dos países
ocidentais, aqui também recorrem constantemente ao companheiro mais íntimo, os
seus smartphones, assim como os seus grandes head phones, muitas vezes a
ouvirem a música altíssima "Despacito" do cantor porto-riquenho Luis
Fonsi e do rapper compatriota Daddy Yankee. Verdadeiramente gente moderna!!!
Não vi um único estrangeiro sempre que circulei de metro. Este é, a maior parte
das vezes, subterrâneo, mas com muitas zonas à superfície. Eu aventurei-me a
andar de metro de noite e em plenas horas de ponta e esta é, sem dúvida, mais
uma experiência típica indiana, com milhares de pessoas confinadas a um espaço
fechado. Se não quiserem vivenciar esta experiência, basta evitarem as horas de
ponta e tudo decorre de forma normalizada, com espaço suficiente para todos.
Delhi pode ser visitada com algum
ritmo em três a quatro dias e se houver mais tempo, em cinco a seis dias. Há
muito de interessante a ver nesta cidade imponente, histórica e moderna. É de
facto, uma cidade fascinante. Esta viveu sob o domínio muçulmano, depois do
poder mogol, de seguida, domínio persa até 1803, quando os ingleses assumirem o
comando.
Até chegarmos à
atual capital, existiram oito cidades na sua história, até à atual Nova Delhi.
Esta cidade assistiu ao nascimento e à morte de vários impérios, que sempre
deixaram marcas arqueológicas e arquitetónicas, possíveis de se visitarem
atualmente. Por isso, a cidade é formada por um conglomerado de oito cidades
que viveram numa roda gigante de ascensão e queda. São elas:
Qila Rai Pitora,
a primeira cidade construída em 1180; Siri a segunda cidade foi construída por
Muhammad Khilji em 1303; Tughuqabad, a terceira cidade, erguida entre 1321 e
1325; Jahanpanah, a quarta cidade, construída por Muhammad bin Tughluq entre
1325 e 1351, para conectar Qila Rai Pitora e Siri; Kotla Firoz Shah, contruída
por Firuz Shah Tughluq entre 1351 e 1388, muito perto de Old Delhi; Purana
Qila, a sexta cidade, construída por Sher Shah Suri e Dinpanah, surgiu com
Humayun em torno de 1500; Shahjahanabad, a sétima cidade, construída pelo
imperador mogol Shah Jahan entre 1638 e 1649. A cidade incluía o Forte Vermelho
de Delhi, construída quando a capital do Império Mogol foi transferida de Agra
para Deli. Nova Delhi, é a oitava e atual cidade que une e inclui todas as
anteriores.
Visitei a
cidade em quatro dias, mas como já referi, se preferirem, e de forma mais
tranquila, poderão fazê-lo em quatro ou cinco dias. Fica a nota que a maioria
destes lugares estão fechados à 2ª feira, como acontece na maior parte do
mundo.
Aqui seguem as
sugestões de visita à capital em quatro dias.
No fundo,
podemos dividir Delhi em três grandes áreas:
A) Connaught
Place e arredores: prédios do governo, museu de Gandhi e vários templos e
mausoléus interessantes;
B) Old Delhi:
Mercados antigos, Forte Vermelho, Mesquita Jama Masid entre outras coisas e
C) Mais longe
do centro: no sul da cidade está o templo de Lotus, o Qutub Minar e o templo
dos Hare Krishna ISKCON.
Rui Bizarro
Jornal: O Público - Fuga dos Leitores
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