Do Profano ao Sagrado
Todos nós ocidentais, homens ditos modernos, temos uma grande dificuldade em aceitar o sagrado. Não conseguimos, como faziam os nossos antepassados, ver o sagrado a manifestar-se numa simples pedra, numa simples flor, numa simples árvore. No entanto, tudo é suscetível de se revelar como sagrado.
Vivemos de uma forma dessacralizada, onde tudo perdeu o seu poder, se tornou utilitário, vazio e profano. O pensamento prevalece sobre o coração, a lógica prevalece sobre a intuição.
As coisas mais simples e básicas da vida também se podem tornar sagradas mediante a nossa atenção e na forma como as sentimos e as integramos dentro de nós.
O sagrado é um espaço que acedemos, um regresso às origens, um tempo cíclico de eterno retorno, um espaço de acesso ao divino. O sagrado é algo de interno ao ser humano, um estado de ser, uma vivência íntima, mas que faz uma rutura com o dia a dia, com o profano.
Nesse sentido, contemplar um nascer ou um pôr do sol pode ser uma experiência sagrada na medida em que nos transporta para um lugar sagrado.
Permanecer em casa no sofá, mediante uma vivência profundamente íntima que nos transporte para um outro espaço-tempo é igualmente uma experiência sagrada.
Saborear uma simples refeição, mas embebida de plena consciência e não se deixando profanar por pensamentos ou outro tipo de distrações é igualmente uma experiência sagrada.
O simples ato de passearmos o nosso cão pode tornar-se sagrado ao suspendermos o tempo profano.
O que nos leva a dizer que tudo o que é vivido, o mais simples que seja, pode tornar-se sagrado, se houver uma atitude interior consciente, uma vivencia íntima, uma rutura com o profano, toda a experiência em si se torna então sagrada. Esta vem de dentro e não obrigatoriamente de um elemento exterior.
Existem de facto lugares sagrados, locais de poder, que fazem a ponte entre o Homem e o sobrenatural. Existem muitos espaços na natureza com esta força e outros tantos lugares como santuários, templos, mosteiros ou mesmo menires, castros e antas proto-históricas que nos fazem sentir o poder destes locais. No entanto, a experiência do sagrado vem do foro íntimo, da vivência pessoal, por isso pode ser criado esse espaço do sagrado em tudo o que entendermos, mediante a nossa atitude interior.
Que tornemos assim cada ato da nossa vida, cada gesto, cada movimento, cada palavra, cada intenção, cada encontro, cada dia como um lugar sagrado, onde suspendemos o tempo profano, dando lugar ao que é sagrado.
Rui Sebők Bizarro
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