Suspensão no Tempo: Reflexões

Suspensão no Tempo: Reflexões
Como todos temos observado, o mundo está numa enorme mutação, conseguimos cada vez mais distinguir o essencial do acessório. A nossa riqueza exterior, por exemplo, nada vale no meio destes desafios que estamos a atravessar, importa sim a riqueza do nosso coração, do nosso espírito, a nossa saúde, a nossa imunidade, a nossa humanidade, que não são acessíveis em lojas comerciais, não podem ser comercializadas em lugar nenhum, o mercado chinês não tem isto à venda, mas apenas podem ser cultivadas ao longo do tempo através do nosso coração, da nossa dedicação, da nossa intenção, de um olhar introspetivo, da nossa meditação, da nossa prática diária. Pouco interessa ter uma conta bancária com muitos zeros à direita de um número, pois neste momento nada paga aquilo que mais precisamos. O ser humano está a compreender através da sua própria experiência que a dimensão do Ter pouco vale em relação à dimensão do Ser.

O nosso isolamento, o nosso confinamento dentro das nossas casas, sem as distrações do exterior, do nosso ego, reduzindo os entretenimentos da nossa mente tem nos obrigado a ver com mais clareza o nosso interior, a mudar os nossos hábitos, a questionar a nossa vida, o nosso propósito nesta planeta, nesta Terra. Cada vez mais percebemos que esta Terra não nos pertence, mas que apenas pertencemos à Terra, somos apenas inquilinos e não Senhorios deste planeta, meros passageiros e viajantes deste lugar ao Sol.
Neste tempo suspenso, temos aprendido várias coisas, como por exemplo lidar mais profundamente connosco próprios, aprender a lidar com as nossas vicissitudes, hábitos, dependências, estilos de vida, expectativas, aprender a lidar mais profundamente com quem vive ao nosso lado, de igual modo com as suas vicissitudes, hábitos, dependências, estilos de vida, expectativas que interagem diretamente com a nossa. Estamos a aprender também a viver com o menos possível, a valorizar o que é verdadeiramente importante, que tudo o que possamos ter em termos materiais pouco nos vale nesta momento, pode auxiliar um pouco, criar algum conforto, facilitar algumas situações, mas no fim, percebemos que não podemos comprar saúde, nem imunidade, nem amor, nem paz, de nada vale a matéria senão o que existe no nosso coração, no nosso espírito na nossa alma. De nada nos valem os bens materiais em prol do Amor que temos pela vida, pela humanidade, por Deus.

Por mais teorias da conspiração que estejam a emergir neste momento, podemos escolher a que mais nos identificarmos mediante a nossa ideologia e flexibilidade intelectual, desde a teoria do morcego, do pangolim, à teoria da conspiração chinesa para dominar o mundo, passando pela teoria da epidemia seletiva do capitalismo para exterminar a população não ativa, ou mesmo a teoria da vingança da natureza, ou também a teoria do vírus criado em laboratório para implementar novas vacinas, etc. etc., o certo é que, conspirações à parte, vemos os sinais comprovados do ambiente, este parece mais feliz e respirar melhor, os níveis de poluição baixaram drasticamente, as águas estão mais cristalinas, existem muito menos gases poluentes no ar, a camada de ozono está a permitir novas correntes oceânicas, os animais começam a aparecer em locais quando não o faziam há muito tempo.
E dentro de nós, fomos obrigados a isolar-nos e a ir ao fundo de nós próprios, a resgatarmo-nos novamente, a observar-nos intensamente. Resta-nos todo o tempo do mundo que tanto ansiávamos nas nossas vidas, restas-nos tempo para ler, escrever, escutar música, dançar, cantar, refletir, meditar, contemplar, criar, conviver com os nossos filhos, passear os cães, resta-nos inevitavelmente uma revolução dentro e fora de nós, uma revolução para com a nossa própria vida, para com os nossos hábitos, dependências, estilos de vida, expectativas. Resta-nos questionar tudo e mais que tudo questionarmos, sobre o caminho que queremos continuar a traçar daqui para a frente, se queremos ou não manter as mesmas dependências, o mesmo estilo de vida, quais as mudanças a realizar nas nossas vidas.
Permitam que este tempo, drástico, desafiador, limitador, castrador, seja uma dádiva e uma benção nas nossas vidas para realizamos as reflexões necessárias, fazermos um reset nas nossas vidas e podermos verdadeiramente mudar o que tem de ser transformado dentro e fora de nós.
É uma suspensão no tempo, um espaço de esvaziamento, de largar o acessório, o supérfluo e dar lugar ao que mais verdadeiramente nos importa e que seja de facto essencial para nós e para o nosso caminho enquanto seres humanos.
E desta forma a humanidade irá desabrochar a sua flor de lótus e as suas mil pétalas se abrirão ao mundo, perfumando-o, embelezando-o e para que o seu néctar sirva de alimento a tantas outras plantas e animais deste planeta.
Hari Om 🥰
Rui Sebők Bizarro